Entrevista
Rodrigo Rosm

Conversamos com Rodrigo Rosm, idealizador do curso Designologia que rolou em 2022 aqui no Espaço.CC. A entrevista foi originalmente publicada na nossa Newsletter em maio de 2022. Sobre Rodrigo Rosm: Designer, editor e artista visual, Rodrigo Rosm considera-se um observador das pequenas coisas do mundo. Envolvido em diversas produções culturais do Rio de Janeiro, co-fundou o editoria + studio Casa27, onde desenvolve boa parte de seus trabalhos gráficos. Em sua prática artística, Rosm investiga linguagens, formas e suportes para comunicar e gerar conhecimento. Estudou Desenho, Pintura e Texto em Arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Comunicação Visual na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). Entre 2020 e 2021, cursou Produção Editorial e Design Instrucional na Universidade do Livro (UNESP)
por Manoela Cezar
28 de Março de 2022

#design #entrevista #estúdio

Entrevista
Rodrigo Rosm

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por Manoela Cezar


28 de Março de 2022

#design #entrevista #estúdio

Conversamos com Rodrigo Rosm, idealizador do curso Designologia que rolou em 2022 aqui no Espaço.CC. A entrevista foi originalmente publicada na nossa Newsletter em maio de 2022. Sobre Rodrigo Rosm: Designer, editor e artista visual, Rodrigo Rosm considera-se um observador das pequenas coisas do mundo. Envolvido em diversas produções culturais do Rio de Janeiro, co-fundou o editoria + studio Casa27, onde desenvolve boa parte de seus trabalhos gráficos. Em sua prática artística, Rosm investiga linguagens, formas e suportes para comunicar e gerar conhecimento. Estudou Desenho, Pintura e Texto em Arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Comunicação Visual na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). Entre 2020 e 2021, cursou Produção Editorial e Design Instrucional na Universidade do Livro (UNESP)

Conta para gente um pouco mais da sua trajetória, principalmente quando começou sua relação com o design

Rodrigo Rosm: Toda minha história começa na pequena cidade de Armação dos Búzios, lugar especial no qual fui criado pela minha família e onde comecei a colecionar minhas primeiras impressões do mundo, o céu, o sol, o mar, o vento, o futebol na rua, o primeiro emprego, enfim, tudo começa nesse balneário do interior do estado do Rio de Janeiro. Desde pequeno sempre gostei de desenhar e colorir almanaques da Turma da Mônica, depois a revista ULTRAJOVEM sobre os mangás da época. Por volta dos 14 anos comecei a me aproximar da cultura hip hop e rapidamente direcionei meus desenhos para as referências do graffiti. A partir daí tive a primeira noção do era Design, o famoso Desenho Industrial. Quando entrei no Departamento de Artes e Design da PUC-RIO, em 2013, como bolsista prouni 100%, já tinha vivido algumas experiências que fizeram com que eu tivesse certa consciência social para entender o lugar que estava ocupando e sobretudo como sobreviver nesse ambiente. Dentro do Departamento sempre fui um aluno ativo, presentes nos laboratórios de computação gráfica e processos de impressão, tive grandes mestres e parceiros de projeto. Criei uma editora independente com os amigos para entrar nas feiras de arte impressa. Nesse meio tempo também fiz uma série de cursos na EAV Parque Lage, estagiei no Museu da Chácara do Céu (RJ) e comecei a editar livros autorais e de outros artistas de forma independente. Essa longa história ainda segue sendo escrita.

Qual o papel da negritude na sua prática artística?

R.R: Enquanto designer-artista-editor, criado por uma família negra, posso afirmar que a noção de negritude é central na minha formação de indivíduo. Mesmo sem contato com a militância negra tradicional partidária, minha mãe sempre fez questões de conversar sobre racismo e discriminação, hoje vejo que pelos meios possíveis como o samba e o carnaval ela busca me apresentar dados da cultura negra e assim valorizá-los. A verdade é que há certo modismo no meio da arte contemporânea em tratar de negritude e como tudo que entra na moda corre o risco da superficialidade, assim, vejo poucos artistas tratando de tais assuntos de forma aprofundada, há muitos clichês sendo reproduzidos e legitimados pelas instituições de artes. Na minha prática artística, busco tratar desse assunto com muito cuidado, sempre me baseando na historiografia mas sobretudo na experiência que carrego na pele. Acredito que ainda há muita mistificação sobre culturas negras e a partir da minha pesquisa busco levantar tais ideias com certo tratamento estético. Também tenho interesse em apresentar trabalhos que tratem de subjetividades inerentes a qualquer pessoa. Ou seja, existir enquanto designer-artista-editor conectado às questões do meu tempo e também inventar linguagens e formas que vão além dos paradigmas sociais em torno da negritude.

Em Designologia, você aborda as relações entre método e processo artístico. Por que a decisão de desenvolver uma pesquisa voltada para isso?

R.R: Considerando apenas o poder do artista-designer, o que há em comum em ambos agentes é a ideia de processo criativo, porém aí também se instala o ponto de distinção, pois designer tem seu processo criativo guiados por metodologias, fazendo com que suas criações aconteçam dentro um conjunto de atividades, estudo de público-alvo, experimentação, prototipagem rápida. Já os artistas em geral – obviamente isso é relativo e depende da formação – têm seu processo criativo guiado por aspectos de ordem subjetiva, como a ideia de insight, inspiração e tal. E sem fazer juízo de valor do que é melhor ou pior, a ideia do curso Designologia é explorar o melhor de ambos os mundos. Designers lidam com questões mais objetivas, sempre mediadas por demandas comerciais; já artistas trabalham com questões de ordem puramente conceituais, existenciais e subjetivas. A ideia central do curso é responder às seguintes perguntas: pode o design ser uma ciência das artes? Ou ainda, é possível utilizar as metodologias de design para criar objetos de artes? Quando é arte? Quando é design? E esses questionamentos surgiram a partir da prática e diálogo com artistas, professores, designers, até reunir uma base teórica para apresentar tais ideias enquanto aulas e elaboração de textos (ensaios).

Você se enxerga hoje também como professor. Qual a sua relação com essa troca de conhecimento?

R.R: A ideia dos cursos online surgiu em 2020 no meio da pandemia, mas acabei lançando o primeiro apenas em 2021 depois de ter feito uma série de cursos sobre marketing digital, design instrucional e produção editorial. Mas, antes de tudo isso, sempre tive a pretensão de ser professor, durante a graduação fui convidado para ser monitor de uma disciplina sobre processos de produção gráfica pela professora Simone Formiga, que aliás foi muito importante nesse momento de amadurecimento dentro do campo do Design. Também ministrei muitas oficinas em espaços independentes e eventos de design no Rio, sempre voltadas para esse universo dos livros, zines e arte impressa em geral. Todas essas experiências corroboram para o momento atual da minha pesquisa em Design. Acabei por encontrar nas aulas um formato para organizar ideias complexas, comunicar para os interessados e, o mais importante, levantar debates pertinentes em relação às questões da contemporaneidade. Acredito muito na ideia do Design como uma ferramenta social para inovação além do senso comum do que é tecnologia. A minha formação na PUC-RIO mudou minha vida, meu jeito de lidar com o mundo material, me fez entender o micro e macro, o global e o local. Por isso e outros motivos, sim, me enxergo como professor e minha missão é compartilhar conhecimento, criar mais e mais canais para levar essa visão ampliada do que eu entendo como Design.

Você é o cofundador da igreja do reino da arte (a noiva). No que consiste esse projeto?

R.R: Essa é uma pergunta de milhões. Costumamos dizer que a igreja do reino da arte é software open source, que qualquer pessoa pode baixar o código (mandamentos e textos-base) e assim dar forma para sua devida necessidade. A ideia da igreja surgiu no contexto de alunos de Design que tinham interesse por questões da arte contemporânea, que já produziam linguagem e objetos de arte porém não tinham acesso ao espaços de legitimação como museus e galerias. A igreja surgiu com o objetivo de preencher essa lacuna e criar um espaço para que nossos trabalhos pudessem existir, enfim, tal qual uma igreja onde cada fiel tem sua função para que as coisas aconteçam, limpeza do espaço, gerenciamento do dízimo, preparo do comida, cada um contribui com o possível para realizar as tarefas. O projeto começou em 2018, muitas águas rolaram e a coisa tornou-se viva, transformando-se a cada evento realizado, ao ponto que começamos levar a igreja para espaços institucionais das artes e assim, alguns artistas ganharam visibilidade, o mais conhecido deles é o Maxwell Alexandre, mas há muitos outros que estavam presentes na concepção da igreja como eu mesmo, Edu de Barros, Raoni Azevedo, Maria Antonia Souza, Caio Rosa, Allan Webb, Pamela Magno e muitxs outrxs. Desde do início buscamos descentralizar os processos e dar autonomia aos artistas. O que vale dentro da igreja da arte é a pró-atividade de realizar suas criações, e os membros estarão ali dispostos a levantar tal missão com fé. A melhor forma de acompanhar as nossas atividades é por meio da hashtag #igrejadoreinodaarte no Instagram.

Quais são hoje suas principais referências artistas?

R.R: O melhor pintor da bahia, Amos Oz, Diane Lima, Griselda e Dolores Salcedo.

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